Concluir a graduação numa universidade de ponta e ter um MBA no currículo não são os únicos indicativos para saber que o profissional está qualificado para o mercado de trabalho.


Segundo a pesquisa Capacitação para competir: ensino pós secundário e sustentabilidade empresarial na América Latina, elaborado pela Economist Intelligence e patrocinado pela Dell e pela Fedex, feita com 192 executivos sênior na América Latina, a busca das empresas não está somente focada nas competências técnicas, mas também nas habilidades sociais.

“O interesse das empresas na economia global motivou o estudo para entender o que beneficia esse mercado. A educação é uma das variáveis mais importantes desse quadro”, afirma o diretor de Marketing e Comunicação Corporativa para a Fedex na América Latina e Caribe, Guilherme Gatti.

A falta de investimentos na educação, futuramente, porém, vai impactar o mercado de trabalho. “É algo que ocorre não só no Brasil,mas na América Latina como um todo e os efeitos são refletidos na inovação e no desenvolvimento das empresas”, diz Gatti.

HABILIDADES SOCIAIS

De acordo com ele,além da deficiência nas capacidades técnicas, há problemas também quando o assunto são as habilidades sociais. Segundo ele, essas são mais difíceis de medir e quantificar. São aquelas chamadas muitas vezes de aptidões pessoais ou interpessoais, como o pensamento crítico, liderança, capacidade para solucionar problemas e para trabalhar com a diversidade cultural.“Para 97% dos participantes, a globalização aumentou a necessidade por habilidades interpessoais”, afirma Gatti. Para solucionar a falta de preparo de muitos profissionais no mercado de trabalho, as empresas optam por treinamentos. Segundo Gatti, “é a opção quando não se encontra um profissional capacitado para tal função”.

Para o professor José Paulo Carelli, do Departamento de Direção Financeira do Instituto Superior da Empresa (ISE), escola associada ao Iese Business School, da Universidade de Navarra, Espanha, nos níveis não tão altos, o ensino superior pode ser o suficiente, porém não é uma regra. “Para muitos cargos, em diversas áreas, somente a graduação não é o bastante.

Há empresas que exigem uma formação mais prática, as habilidades pessoais, que, em geral, são percebidas após a entrada do funcionário na empresa.”

Segundo Carelli, para uma boa formação, a faculdade é meio caminho. “Um MBA, especialmente se fórum internacional, focará mais no desenvolvimento técnico em vez do pessoal. Entretanto, ele estará em contato com conceitos que lhe serão úteis para coordenar equipes.

Do ponto de vista gerencial, este seria um profissional de muito gabarito”, acredita ele.

RARIDADE NO MERCADO

Para a professora da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio

Vargas (FGV), Beatriz Maria Braga,uma das queixas mais comuns entre os gestores é a falta de profissionais altamente qualificados. Por outro lado, ela afirma que também há uma grande pressão sobre os funcionários.

“Assim que terminam a faculdade já são cobrados para que tenham uma especialização.

O ritmo da informação está muito maior atualmente, os profissionais não podem deixar de estudar, é algo que eles levarão para o resto de suas vidas.” Beatriz comenta que deixar de investir na qualificação técnica pode ser o primeiro passo para ser descartado do mercado.

“Uma pessoa que nem sequer tenha feito um curso num espaço de cinco anos é um tempo grande sem se aprimorar”, adverte ela. E ela também faz parte do time de especialistas que afirmam que as habilidades sociais contam pontos. “Relacionar-se bem e saber trabalhar em equipe, por exemplo, são itens que podem ser aprendidos com a experiência, depende de profissional para profissional. Há pessoas que já nascem com essa habilidade, que podem ser considerados líderes natos.”

De acordo com Beatriz, a falta de qualificação pode atingir qualquer pessoa. “É só se descuidar um pouco e você já não está mais cem por cento para determinada área ou função.” Ela diz que os jovens podem levar vantagem nesse ponto, por serem, em sua maioria, mas rápidos para as novidades e criativos.

Todavia, aqueles que estão há pouco tempo no mercado devem estar atentos: “Daqui a dois, três anos o cenário do mercado será outro. Não pode parar, é um desafio que proporciona o crescimento profissional.”

DISTÂNCIA

Na Sankhya, o diretor-presidente, Felipe Calixto, percebeu que entre os profissionais que chegavam havia uma distância entre os conceitos aprendidos na universidade e a prática do mercado de trabalho. “Muitos tinham um currículo fantástico, mas quando se viam diante de alguma questão para ser resolvida não conseguiam e até criavam um problema maior”, conta.

Em vez de aceitar as falhas, como a falta de iniciativa dos funcionários, Calixto preferiu mudar a realidade do mercado ao criar uma universidade corporativa, que oferece cursos presenciais e à distância, nas áreas que envolvem os processos da empresa. A empresa tem cerca de mil clientes, muitos deles acabam optando por contratar esses profissionais que passaram pela universidade corporativa.

“Com os clientes que usam o nosso sistema houve uma diminuição de 37% nas chamadas do help desk. Preparamos os profissionais para a nossa empresa, para clientes ou para outras oportunidades no mercado.” Segundo Calixto, o ideal seria que o sistema de ensino se aproximasse da realidade que os estudantes encontrarão nas empresas: “Deveria ter um treinamento comportamental para mostrar como agir no mercado de trabalho.” Cerca de 6 mil profissionais já passaram pela universidade corporativa nestes dez anos de existência, entre eles o analista de Marketing da empresa, Tiago Fonseca.

“Tenho muita vontade de crescer profissionalmente e investir na técnica e adquirir experiência é essencial.” Ele está há um ano e meio na empresa e nem por isso deixou de fazer cursos:“O objetivo é aprender sempre mais.”

Juliana Portugal
Fonte: Jornal O Estado de São Paulo

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