Para discutir a engenharia

21/12/2011 - Aos 36 anos, Rubem Saldanha é um defensor da atualização de currículos dos cursos superiores brasileiros, para que o profissional formado aqui consiga competir com os estrangeiros e ajude a desenvolver ainda mais o país. Gerente de educação da Intel Semicondutores do Brasil, o gaúcho de Santa Maria enfatiza a importância de absorver boas práticas aplicadas em universidades do Exterior, em especial na área da engenharia.

Formado em Ciência da Computação, com mestrado na área de educação e tecnologia aplicadas ao currículo, Saldanha cita ele próprio como exemplo: ao fazer o curso superior, em meados da década de 90, o conteúdo das aulas ainda era focado em ferramentas da década anterior. Ou seja, as tecnologias utilizadas já estavam defasadas. Isso leva muitos profissionais a buscar uma pós-graduação imediatamente depois da formatura, para conseguir concorrer no mercado.

No Brasil, a Intel desenvolve um projeto voltado para a discussão de currículos com instituições de Ensino Superior, focado em Engenharia da Computação, Engenharia Elétrica e Ciência da Computação. Os modelos são os trabalhos feitos em universidades dos EUA, da China, de Israel, entre outros. Em um encontro recente realizado em Porto Alegre, professores de México, Argentina, Costa Rica e Brasil participaram do debate e conheceram experiências.

O número de engenheiros registrados no país aumentou na última década, de acordo com o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea). Em 2002, foram 20,6 mil registros. Em 2011, até a metade de dezembro, chegou-se à marca de 70,2 mil. Nestes 10 anos, 463 mil engenheiros se registraram no Brasil.

Em virtude desse crescimento, nada mais apropriado do que discutir a formação fornecida aos profissionais da área. Confira trechos da entrevista concedida por Saldanha por telefone:

Vestibular – Por que discutir a questão dos currículos?

Rubem Saldanha – A discussão sobre que tipo de ferramentas a universidade se utiliza para oferecer ao seu aluno a melhor formação possível é muito importante. Principalmente quando falamos da área de exatas, das engenharias. O Brasil vive um boom econômico, e uma questão mais urgente é a formação de mão de obra qualificada para não parar esse crescimento nos próximos anos. Hoje, estão se formando mais pessoas no país, mas temos de nos preocupar com a qualidade. Ultimamente, grandes companhias estão trazendo áreas de pesquisa para o Brasil. Elas só conseguem se firmar aqui, sem voltar para EUA ou Europa, se tivermos gente de ponta.

Vestibular – Como você avalia os currículos atuais das engenharias no país?

Saldanha – Há uma divisão muito nítida hoje entre quatro ou cinco universidades que são de ponta nessas áreas e o resto das instituições. As primeiras estão buscando a internacionalização, buscando ser globais. Outras instituições não conseguem acompanhar esse ritmo, por barreiras de orçamento, língua, visão. A diferenciação ocorre pelo relacionamento com a indústria, recebendo empresas, firmando parcerias. É um trabalho de longo prazo, mas que precisamos estimular.

Vestibular – Como é a recepção dessas ideias no Brasil?

Saldanha – É importante frisar que os professores brasileiros são muito críticos, e isso é bom. Mostramos para eles currículos que estão sendo desenvolvidos em outras universidades. Eles olham, adaptam e incorporam nos currículos daqui o que acreditam que vai funcionar. Já mandamos professores para os EUA, para que possam ver o que está acontecendo por lá, em instituições como MIT, Georgia Tech, Berkeley, Austin.

Vestibular – Que países e universidades no Exterior podem servir de exemplo para o Brasil?

Saldanha – Na questão de tecnologia, os EUA sempre serão um lugar a ser visto como exemplo. Várias universidades estão entre as melhores do mundo, inclusive na área de computação, e desenvolvem as competências dos alunos desde a graduação. Israel também é um centro de competência em tecnologia. E a China, pela massificação com alto grau de qualidade. Em um evento, um professor chinês citou que eles formam 7 milhões de engenheiros por ano.

Vestibular – Existe alguma fórmula para preparar melhor engenheiros?

Saldanha – Precisamos dar experiência internacional para professores e alunos. Empresas e governo já têm iniciativas nesse sentido. É importante continuar essa política de parcerias público-privadas de algumas universidades, conseguir fazer uma boa parceria com a indústria, para fazer pesquisa.

Vestibular – Muitas pessoas acreditam que fazer engenharia é uma garantia de bom salário e bom emprego. Isso é verdadeiro?

Saldanha – Hoje, no Brasil, temos um déficit de engenheiros. Mas temos um déficit maior ainda de bons engenheiros. Se você tem uma qualidade na formação, tem mais chance de se desenvolver. Segundo a fala popular, parece que só entrar na engenharia basta para ser bem-sucedido. Mas você só conseguirá sair da faculdade se estudar bastante. Não é um curso fácil, precisa de muita dedicação.

Vestibular – Quais áreas dentro da engenharia estão em evidência?

Saldanha – A área de sistemas embarcados é tendência. Hoje, existem ônibus inteligentes, semáforos inteligentes. O que significa isso? São sistemas que analisam em tempo real vários indicadores. Logo não será mais ficção científica uma geladeira avisando que vai acabar o leite.

Fonte: Zero Hora Online

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