O Brasil sobe ao posto de sexta maior economia do planeta. Falta agora firmar o passo para alcançar o padrão de vida dos desenvolvidos

O Brasil provavelmente chegou ao fim de 2011 como o dono da sexta maior economia do mundo, ultrapassando pela primeira vez a Inglaterra - o país que ergueu um império onde o sol nunca se punha, berço da Revolução Industrial e do capitalismo moderno. Até 2015, de acordo com as projeções mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB brasileiro deverá também superar o da França, tornando-se então o quinto maior do mundo. A ascensão econômica brasileira no cenário internacional resulta não apenas dos méritos indiscutíveis do país nos últimos anos, mas também do momento de crise e estagnação na Europa, continente que ruma para uma década perdida. Simbólico do reverso nas fortunas é o fato de que hoje são os europeus (e até mesmo os americanos) que buscam atrair a ajuda financeira do Brasil, e não o contrário, como sempre foi a regra. O entusiasmo brasileiro, no entanto, deve ser devidamente ponderado. Ainda serão necessárias décadas até que o país possa alcançar um p adrão de vida similar ao de nações desenvolvidas.

É verdade que o PIB, ainda que seja uma medida imperfeita e de difícil comparação entre os países, é o principal indicador do poderio econômico de uma nação. Ou alguém duvida que os Estados Unidos e a China se ombreiam hoje como as duas maiores potências globais? Nesse sentido, afirmam os economistas, o Brasil pode tirar proveito de seu maior peso na economia mundial. O crescimento deixa o país mais atraente aos olhos dos investidores estrangeiros. Em 2011, mesmo com a crise externa, o Brasil recebeu um volume recorde de investimentos de fora no setor produtivo (60 bilhões de dólares). Os brasileiros aparecem entre os maiores consumidores mundiais· de carros, computadores e telefones celulares. Todos esses são fatores que contribuíram para ampliar a presença brasileira nos principais fóruns decisórios do planeta - ainda que tenha faltado ao governo, em diversas ocasiões. a maturidade para transformar tamanho econômico em relevância diplomática.

Estar entre os maiores PIBs do planeta, no entanto, não significa que o país tenha se tornado uma nação desenvolvida, como bem sabe qualquer brasileiro confrontado diariamente com episódios de violência e cenas de miséria. A economia brasileira é grande em termos absolutos. Mas, quando se leva em conta o número de habitantes do país, a comparação internacional fica menos lisonjeira. Em termos per capita (o PIB total dividido pelo número de moradores). o Brasil é apenas o 47° colocado. O PIB per capita inglês é o triplo do brasileiro. A renda média no Brasil terá de dobrar para atingir um nível parecido com aquele desfrutado em Portugal e na Coreia do Sul, países cujo PIB per capita equivale -ao mínimo tido como necessário para considerar uma nação de renda elevada (20800 dólares). Para isso acontecer, serão necessárias pelo menos (e com tudo dando certo) duas décadas. Mas os países desenvolvidos também continuarão crescendo nesse período. Por isso, é hiperbólica a afirmação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o Brasil poderá ter padrão de vida europeu "dentro de dez a vinte anos". Segundo cálculos do economista Pedro Cavalcanti Ferreira, professor da Fundação Getúlio Vargas, o Brasil deverá levar ao menos sessenta anos para alcançar o PIB per capita da Itália (imaginando-se um cenário provável em que a economia brasileira avance, em média, 2% acima da italiana). Para que isso ocorresse em vinte anos, como diz Mantega, o PIB brasileiro teria de avançar a taxas chinesas, de 8% ao ano. "Isso não vai ocorrer de forma alguma", afirma Cavalcanti Ferreira. "Mais que otimista, é uma previsão irreal." O avanço social depende ainda de melhora em outros indicadores. No ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Brasil ocupa apenas a 84" posição. Diz o economista Marcelo Néri, especialista em análise de indicadores sociais: "O Brasil está ao menos trinta anos atrasado em relação aos países tidos como referência no que diz respeito a ed ucação, renda e escolaridade". O PIBão ajuda, mas não basta para o país estourar o champanhe do desenvolvimento.

Fonte: Veja - São Paulo/SP

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