Sinais encorajadores de uma retomada sustentada da economia americana levaram os mercados a momentos de otimismo neste início de ano. O desemprego caiu nos Estados Unidos, a indústria ganhou fôlego, os gastos de consumo deram algum indício de alento, enquanto a crise na zona do euro, por alguns dias, parou de piorar. As ações do Banco Central Europeu, de dar todos os recursos que os bancos precisam para se financiar pelos próximos três anos, propiciou uma trégua em um ambiente demasiadamente carregado de maus presságios. O remendo proposto pelos governos da Alemanha e França para apertar as regras de governança econômica da zona do euro - por fora dos tratados da União Europeia - está agora animando os mercados e pode indicar que os governos em dificuldades, como os da Itália e Espanha, terão algum tempo de paz enquanto aplicam seus drásticos programas de austeridade.

Apesar disso tudo, os indícios de mudança do cenário de desaceleração global ainda são tênues e bastante frágeis. A zona do euro deverá apontar que entrou em uma recessão no último trimestre do ano. Uma pesquisa do "The Wall Street Journal" aponta que 48 dos 50 economistas consultados creem que a Europa entrará em breve recessão. Já as previsões coletadas pela revista britânica "The Economist" não são tão otimistas e indicam que a zona do euro fechará 2012 em recessão. A forte desaceleração da economia alemã, que encerrou 2011 com um crescimento de 3%, e o quarto trimestre com uma retração de 0,25%, mostra que da recessão a união monetária não escapa. No mesmo sentido vai o Fundo Monetário Internacional, que, segundo a diretora-gerente Christine Lagarde, revisará para baixo suas projeções para o desempenho da economia global.

Com todos os países importantes da zona do euro realizando cortes nos orçamentos e tentando diminuir os déficits públicos, não há uma luz no fim do túnel para a retração. Alguns analistas acreditam que a desvalorização do euro, de 14% em relação ao dólar desde maio, e de 8% em relação a uma cesta de moedas, traz a possibilidade de alguma reação. Uma desvalorização de 10% do euro produziria um avanço de quase 1% no PIB anual da região, com os efeitos tornando-se perceptíveis a partir do sexto mês ("Financial Times", 10 de janeiro). Isso seria um belo estímulo para a Alemanha, cujas exportações correspondem a 50% do PIB, mas também para a Itália, onde essa relação é um pouco inferior a 30%.

De qualquer forma, grande parte do comércio externo da UE é feita dentro do bloco, com prevalência da Alemanha. Com a demanda doméstica recuando em todos os países, a válvula de escape da exportação tem seus limites. Um deles está exatamente no recuo do comércio mundial, cuja magnitude dependerá crucialmente do desempenho dos países emergentes. Apesar da profundidade da crise de 2008, China, Índia e Brasil conseguiram reencontrar rapidamente o caminho do crescimento. A nova onda da crise, desta vez vinda da Europa, deve frear a América Latina e a Ásia, mas as apostas são de que essas economias continuarão com dinamismo relativo invejável.

A grande incógnita é o destino da economia chinesa. A estimativa do FMI, feita em setembro, mostra desaceleração de 9,5% em 2011 para 9% em 2012, isto é, quase nada. Os mais recentes indicadores não são bons, mas podem não indicar tendências. As importações em dezembro cresceram 11%, bem menos que os 22% de um ano antes. O saldo comercial subiu para US$ 16,5 bilhões, o menor em dois anos. O ritmo de crescimento das exportações se estabilizou em 13,4%. Vários analistas apontam queda de preço, e não de volumes como responsável pelo recuo das importações. Por esse termômetro, a demanda doméstica, que precisa sustentar o crescimento chinês, estaria intacta. A Nomura Securities, porém, apontou algo preocupante. O ritmo de avanço das importações sensíveis ao consumo interno levou tombo significativo, de 39,8% em outubro para 13,5% em dezembro.

Os mercados preveem medidas de estímulo do governo chinês ao consumo interno, sem que nada dramático ocorra no fôlego da economia chinesa. Se for assim, 2012 mostraria desempenho medíocre da Europa, razoável dos EUA (2%) e avanço ainda significativo das economias emergentes. Mas se a China surpreender negativamente, esse cenário ruim se tornará péssimo.

Fonte: Valor Econômico

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