A necessidade de falar durante apresentações de negócios para parceiros, imprensa, acionistas e diretorias internacionais tem feito as empresas procurarem, cada vez mais, cursos de expressão verbal e oratória para seus executivos. Em alguns, o aumento de matrículas foi de mais de 40% entre 2010 e 2011 e quase todos os alunos ocupam cargos de média gerência ou superior.

"Uma das minhas conferências mais recentes teve de ser feita em inglês, para a equipe da matriz da Accor, na França", lembra Cláudia de Barros Barbosa, gerente de marketing da marca Novotel na América Latina, que já realizou dois treinamentos em oratória custeados pelo grupo hoteleiro, dono de bandeiras como Sofitel e Mercure.

O programa de treinamento para porta-vozes da companhia foi iniciado em 2010. Segundo Felipe Boni, gerente de comunicação corporativa da Accor para a América Latina, a diretoria sentiu a necessidade de capacitar os executivos para falar bem durante encontros com a imprensa e em palestras de negócios.

No ano passado, foram treinados mais de 60 gestores de áreas como operações, recursos humanos, vendas, marketing, compras e desenvolvimento de novos negócios. "Por conta do ambiente competitivo em que atuamos, é essencial ter profissionais preparados para representar adequadamente a empresa", diz Boni. Este ano, o plano é qualificar dez executivos, com investimentos de cerca de R$ 40 mil.

Segundo Cláudia, no grupo desde 2003, uma boa expressão verbal é fundamental na sua função. "Na época do curso, estávamos em processo de expansão. Havia necessidade de expor a marca de maneira forte e convincente diante de investidores, equipes e da imprensa", conta.

O último curso da executiva na área durou três meses e a ensinou como manter uma comunicação objetiva, segura e com recursos de persuasão. "É possível corrigir pequenos erros e nos preparar melhor para situações reais". Antes dos treinamentos, além de se preocupar com o conteúdo das conferências, Cláudia precisava também conter o nervosismo. "Passar segurança é fundamental no mundo dos negócios."

De acordo com Reinaldo Polito, professor de oratória há 35 anos e autor de vinte livros sobre o tema, os executivos querem se apresentar com naturalidade nas reuniões de trabalho. "Os alunos não se conformam em ocupar funções importantes e se sentir desconfortáveis ao falar em público". No ano passado, a escola de Polito formou cerca de 1,6 mil pessoas, um aumento de 20% em relação a 2010. A maior parte dos alunos era formada por executivos patrocinados pelas empresas. "Com o mercado mais aquecido, os executivos aproveitam para alavancar a carreira. Falar bem é essencial."

De acordo com ele, tem crescido a procura por parte dos profissionais de empresas de tecnologia e do setor farmacêutico. "Embora as multinacionais sejam as que mais investem no desenvolvimento da comunicação dos colaboradores, as organizações brasileiras passaram a patrocinar muitos cursos nos últimos cinco anos", ressalta.

A Bematech, do setor de tecnologia, que fatura R$ 394 milhões ao ano, começou a investir nesse quesito a partir da abertura de capital, em 2007. "Foi quando intensificamos a atuação internacional, com a aquisição de uma companhia sediada em Nova York", afirma o gerente de recursos humanos Nilson Nascimento. Nos últimos três anos, a empresa, que tem mil colaboradores em quatro países, treinou 166 funcionários na área de expressão verbal, inclusive com cursos a distância ministrados pela universidade corporativa do grupo. "As aulas contemplam módulos para líderes sobre relações com a imprensa, técnicas de negociação entre outros."

Segundo Nascimento, a Bematech banca os cursos para que os colaboradores mostrem desenvoltura nas ocasiões em que representam a companhia, além de buscar melhores resultados nos negócios. "É preciso cativar os interlocutores e mostrar clareza na exposição de ideias", afirma.

O gerente de parcerias da organização, Luis Luize, na empresa desde 1994, já está no segundo curso na área. O último treinamento, realizado no final do ano passado, durou quatro horas. "Por atuar no departamento responsável pelo contato com desenvolvedores de soluções de automação comercial, as apresentações em eventos fazem parte das atividades", explica. Luize pretende também frequentar sessões de fonoaudiologia para tornar a dicção mais clara. "O objetivo é conseguir gravar vídeos com uma maior desenvoltura."

Segundo Fernando Pereira, fundador do Instituto FaleBem, que treinou 350 alunos no Rio de Janeiro (RJ), São Paulo e Campinas (SP) durante 2011, a maioria dos executivos procura ajuda quando precisa desempenhar novas tarefas no escritório. "Eles querem amenizar a ansiedade e superar o medo de falar". No ano passado, a demanda no instituto aumentou 17% ante 2010 e 75% das matrículas foram de profissionais em cargos de liderança. "É comum também as empresas nos procurarem para melhorar a postura dos funcionários e eliminar vícios de discurso como erros de plural e concordância verbal", diz. Cerca de 40% das aulas do FaleBem são no modelo "in company", com duração de oito horas. As maiores demandas vêm de consultorias, indústrias, comércio e terceiro setor.

Para o professor Reinaldo Passadori, presidente do instituto que existe há 27 anos, boa oratória e liderança caminham de mãos dadas no mundo corporativo. "Embora a comunicação verbal seja um dos principais recursos do profissional moderno, ela ficou para trás nas grades das escolas e das universidades", afirma. "Os executivos, principalmente os de gerações mais recentes, correm atrás do prejuízo para desenvolver essa habilidade. Sem ela, dificilmente irão se destacar". Em 2011, o Instituto Passadori recebeu 2,5 mil alunos, 43% a mais do que no ano anterior. A maioria dos cursos é realizada dentro das organizações e setores como construção, serviços e governo estão entre os que mais procuram o treinamento.

Existem, contudo, profissionais que investem parte do salário em cursos dessa natureza. Viviane Pasko, gerente de marketing da Arcon, de serviços de segurança em TI, bancou recentemente um curso de apresentação. "A necessidade de aprimoramento deve ser uma constante na carreira de qualquer executivo", justifica.

Antes de saber como se expressar, no entanto, Viviane diz que é essencial dominar o assunto que será apresentado. "As técnicas de expressão servem para nos ajudar a fazer uma palestra mais interessante", diz.

Fonte: Valor Econômico

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