Foi um período também que desafiou as estimativas de grande parte dos analistas, mesmo as mais pessimistas, colocando as projeções econômicas em xeque - principalmente frente aos investidores mais leigos.

Dos desastrosos 29.435 pontos alcançados no dia 27 de outubro de 2008 à forte recuperação de 109% até os 61.545 pontos marcados no último dia 30, o Ibovespa conseguiu frustrar parte significativa das previsões. Agora, enquanto o bom humor volta a imperar entre as instituições de análise, a imprevisibilidade em cenários incertos volta à pauta.


E não é apenas o desempenho dos mercados acionários que desafia as projeções dos analistas. Indicadores econômicos, resultados corporativos, commodities e câmbio: todos tiveram performances piores do que o esperado no ano passado e estão surpreendendo neste ano.


"A entrada em recessão provou-se muito mais rápida, e o declínio na produção muito mais profundo, do que era comumente esperado. Mas a transição para a recuperação agora parece estar acontecendo muito mais rápida, e parece ser muito mais forte, do que foi previsto há alguns meses", resumem os analistas do Scotia Bank.


Imprecisão das projeções
O fracasso das projeções não foi prerrogativa apenas desta crise financeira, embora ela forneça um exemplo já clássico disso. Quem não se lembra das projeções de que o Ibovespa terminaria 2008 acima de 79 mil pontos, quando, na verdade, ele encerrou o ano abaixo da metade do previsto, a 37.550 pontos?


Enquanto muitos culpam os analistas pelo fracasso nas projeções, é necessário lembrar que as previsões não são ciência exata. Cada análise, seja em relação a ações, seja sobre indicadores econômicos, tem uma série de pressuposições por trás, que ajudam os analistas a desenvolverem seus modelos e chegarem a um cenário prospectivo.


"Em épocas de crise e no pós-crise imediato, há muitas incertezas em relação às condições econômicas", afirma o economista Silvio Campos Neto, do Banco Schahin. O cenário incerto dificulta uma das bases da realização de projeções econômicas e mercadológicas, que é a adoção de premissas.


Para as projeções relacionadas às ações ou índices acionários - que levam à determinação dos preços-alvo e das recomendações de cada instituição de análise - a questão das incertezas também pesa. Dessa forma, é necessário que o investidor não se contente apenas com a leitura e crença nas previsões, mas também faça a avaliação das premissas e escolha as instituições que adotem tópicos que julgar mais factíveis.


Em entrevista recente à InfoMoney, o economista João Brando ressaltou essa particularidade. "A ação no mercado só chegará a este valor [alvo] se todos os agentes concordarem com as premissas assumidas pelo analista, algo pouco provável", afirma. "Daí a importância de se dar ampla divulgação às premissas consideradas em cada análise".


Projeções atuais
A recuperação de uma crise compartilha das incertezas que permeiam as projeções no início e meio das turbulências. Isto posto, fica claro que o cenário atual está inserido dentro dessa situação de imprevisibilidade - fato perceptível através das inúmeras análises divergentes que aparecem, ora prevendo recuperação rápida, ora uma nova perna da crise.


"Ainda prevalecem muitas dúvidas sobre a recuperação da economia" explica Neto. Para o economista do Banco Schahin, há duas incertezas principais atualmente. A primeira é a sustentabilidade da recuperação quando os pacotes de estímulo forem retirados e a segunda é sobre a retomada dos bancos.


"Ainda tem uma série de riscos no setor financeiro mundial", afirma Silvio Campos Neto, ressaltando que, embora os bancos tenham mostrado desempenhos melhores nos últimos trimestres, não é certo que eles tenham solucionado todos os problemas que deram início à crise, há dois anos.


No Brasil, de acordo com o economista, as previsões devem refletir não apenas as incertezas em relação ao ritmo da recuperação, mas também as questões fiscais.


E vale a pena?
Dada a imprevisibilidade em cenários como o atual, não é raro surgir a dúvida sobre se vale a pena fazer e seguir previsões. Tanto é que, entre o final de 2008 e o início de 2009, poucos eram os analistas que se dispunham a falar sobre projeções econômicas - e os que faziam, sempre ressaltavam o risco de erro.


Segundo Neto, continua a valer a pena fazer projeções, mesmo quando há muitas incertezas, já que é uma forma de nortear decisões. "O importante é sempre considerar que elas apresentam alto grau de imprevisibilidade, deixando claro que o risco de darem errado é maior".
Fonte: www.administradores.com.br

These icons link to social bookmarking sites where readers can share and discover new web pages.
  • Digg
  • Sphinn
  • del.icio.us
  • Facebook
  • Mixx
  • Google
  • Furl
  • Reddit
  • Spurl
  • StumbleUpon
  • Technorati